Exposição individual. Appleton Square, Lisboa.
29 Novembro, 2012 > 5 Janeiro, 2013.
Solo show. Appleton Square, Lisbon.
29 november, 2012> 5 january, 2013.
[Nesta exposição é apresentada a peça de som:
Afinação de Piano em Lá 440Hz (Steinway, Modelo D), 40'51'']
[This exhibition presents the sound piece:
Tuning piano in A 440Hz (Steinway, Modelo D), 40'51'']
abcdefghijklmnopqrstuvwxyz (monocromia), 2012
grafite e pedaços de couro sobre a parede.
abcdefghijklmnopqrstuvwxyz (monochromy), 2012
graphite and leather pieces on the wall.
(pormenor/ detail)
Poster da exposição.
Exhibition poster.
>>>>>> Texto sobre a exposição SCHEMA, por Ana Cristina Cachola. <<<<<<
A obra de Vera Mota apresenta diferentes
camadas de significação, projecta referências várias e inclui gestos distintos.
Estes diferentes níveis surgem por vezes justapostos, outras aglutinados, mas
são dotados de um mínimo denominador comum: o imperativo da materialidade. Os
materiais emergem da obra da artista enquanto entidades autónomas dotadas de
uma idoneidade generativa que auxilia, e também limita, a acção de composição. A partir de
lógicas de composição minimais, a artista apresenta meta-desenhos, que mostram
as condições e as possibilidades que o desenho propicia para uma reflexão sobre
o caos e a ordem. Existe na obra de Vera Mota uma intenção precisa e racionalizada,
impotente perante a supremacia das qualidades (dos) materiais. Desta dinâmica
relacional surgem territórios plásticos (in)voluntariamente acidentais, em que
o contingente foi meticulosamente ideado.
É, portanto, numa linha de sutura entre o
caótico e o ordenado, ou mesmo de uma ordenação caótica que o trabalho da
artista se inscreve. É uma obra de
possibilidades múltiplas no que à relação com o espectador diz respeito, em que
coabitam naturalmente uma auto-reflexividade, inevitavelmente individual, e uma
propensão para a convivialidade fruitiva de materiais, signos e símbolos
tacitamente aceites e reconhecidos.
Nesta exposição, intitulada “SCHEMA”,
Vera Mota apresenta, exactamente, um conjunto de trabalhos que concorrem para o entendimento desta relação entre
o caos e a ordem e das suas possibilidades mútuas, assim como para uma
percepção do desenho em sentido lato, enquanto acção que, quando desencadeada,
produz superfícies e dimensões
aprioristicamente incógnitas. Mas se na intenção artística não existe uma
ingenuidade de omnipotência, há nos vários trabalhos apresentados uma tentativa
de domesticação do indómito. Os títulos das obras (e o próprio título da
exposição) denunciam este exercício de ordenação e categorização, convocando
aparato lexical de controlo. “SCHEMA” apresenta-se enquanto macro-enunciado da
normalização, afirmando que a exposição encerra em si um propósito lógico
estrutural e sistematizado, já que a instabilidade das variáveis é tida como
constante na equação proposta pela artista.
Em “abcdefghijklmnopqrstuvwxyz
(monocromia)”, uma grelha com pedaços de couro que lhe conferem tonalidades e
brilhos distintos, assiste-se a um duplo intento de contenção do lado mais
selvático do material. Por um lado, a grelha surge como uma espécie de ecrã que
congrega elementos excedentários, residuais e inúteis, restos de couro,
dejectos de um primeiro propósito, restituindo-lhes uma nova ordem, (e não é a ordenação o pressuposto de
uma grelha?). Por outro, adicionando a esta instância discursiva visual o
título “abcdefghijklmnopqrstuvwxyz”, desvenda-se uma equivalência operativa entre ambos,
insurgindo-se, título e obra, enquanto sistemas de clarificação: a ordenação de
traços que transformam letras em linguagem assemelha-se ao processo
organizativo subjacente a uma grelha.
Omnipresente no espaço de exibição está
“Afinação de piano em Lá 440hz” , um desenho sonoro que, de forma análoga,
enuncia os pressupostos do acto de desenhar. Durante cerca de quarenta minutos
ouve-se a afinação de um piano, tentativa de domesticar um material, também ele
sujeito a um percurso acidental, independentemente de um esforço de controlo
anterior.
As obras apresentadas na exposição, no
seu todo, oferecem ao espectador um desenho sinestésico fruto de uma entropia
generativa que acaba por levar a ordem de volta ao caos.
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